terça-feira, 13 de outubro de 2009

A História se repete...


O meu nome é Alessa. Nasci em Maio de 1972 num dia radiante de primavera. Desde nova soube que morreria jovem. Não sei ao certo o porquê. Comecei com sete anos a ouvir as conversas dos mais velhos e a captar cada palavrinha como se fosse uma pequena esponja. Aos treze anos sabia mais do que deveria. Foi por esta altura que pararam os pesadelos com cadáveres. Sim, porque em criança eu tinha uma razão muito especial para recear o escuro: via caveiras, dentes e olhos assassinos a toda a minha volta. Odiava a hora de ir dormir e sofri de insónias por essa altura. Durante algum tempo pararam. Alguns anos depois começaram os namoros. Nunca fui capaz de mostrar a nenhum deles mais do que a máscara que punha para todos os outros. Algum dia entenderiam? Como alguém poderia compreender que eu sonhava o futuro? Quem acreditaria se eu dissesse que nunca estava sozinha no meu quarto mesmo quando estava a casa vazia? Quem não me acharia louca se eu admitisse que sei que não me resta muito tempo neste mundo vazio e oco de emoções fingidas em reacções que não são sentidas?
Oh rio fundo e frio que reflectes a minha imagem na tua superfície corrompida pela sujidade da sociedade, que farei? Tirarei a minha própria vida? Lançarei meu pé sobre o corrimão e desistirei sem luta? Como enfrentar o meu destino que conheço tão bem como cada palma das minhas mãos sem apoio? Sem ninguém que partilhe o meu fardo e me faça rejeitá-lo? Tantas perguntas sem resposta e tão pouco tempo para resolvê-las. Esta noite, sonhei pequenos flashes da minha vida. E apercebi-me que este era o dia em que teria de decidir. Olho à minha volta. Parece que a história se repete. Rogo às águas que me apertem nos seus braços de gelo escuro. Peço aos céus que a minha alma alcance a paz e quebre a maldição que se prendeu à minha carne. Tu que encontraste a minha carta imploro-te que a guardes bem e ofereças a ajuda que não me foi concedida para que esta tragédia não se propague à próxima geração…





Dia 7 de Janeiro de 1992

2 comentários:

Anónimo disse...

gostei muito da tua escrita.
houve algumas partes que me fizeram lembrar a infância, mas em parte referia-se ao facto de uma criança estar a prever o que iria acontecer com ela no futuro. em parte soltou-se um certo arrepio!
parabéns pela escrita , continua :)

Inês disse...

Não vale a pena desistir =) NUNCA!!
Força rapariga! Continua a iluminar este blog com os teus textos magnificos!