segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Amor Negro



Bela, pura e angelical.
Sua pele de alabastro reluzia com a luz do luar. Lábios encarnados como sangue manchavam a pureza do seu rosto, cinzelado parecia, por mão de hábil homem. No mar dos seus olhos perdia-se o mortal, cativo da beleza selvagem e fatal que exalavam. Cabelos longos, negros, lisos emolduravam o seu rosto e desciam até tocar o seu regaço. Assim, como a escuridão dos seus cabelos, o manto que trazia à sua volta envolvia-a da mesma forma que a noite pairava no mundo.
Montando no seu cavalo forte, da cor da terra fértil, os seus lábios tocavam-se suavemente enquanto murmurava em língua estranha e finas cortinas de lágrimas deslizavam por ambas as faces. Ele não podia entender as suas palavras mas sentia. A dor presente em cada entoação da sua voz que inflamava a sua alma da mesma forma que a dela latejava. A sua voz misturava-se com a doce brisa do bosque. Aproximava-se trazendo-lhe além dos cheiros familiares, a pinho e a terra fresca, o odor de sal, mar, areia fresca e algas toldava-lhe os sentidos.
Parou. Desceu do cavalo e os seus olhos penetraram na sua alma sugando tudo o que havia até só existir o presente, só sentir a ondear do vento no rosto, o cheiro dela, o coração batendo descompassado, o seu toque…
Como num sonho demasiado real, os seus lábios tocaram-se. Podia sentir a sua pele húmida das lágrimas que ainda escorriam como grossas pérolas. Ela ainda murmurava naquele idioma desconhecido. Mas depressa reconheceu aquelas doces palavras . Ela suspirava o seu nome e pedia: “volta a mim”. Ele morreu naquele momento e reviveu de novo. Contemplou-a sem a névoa que esbatia a sua figura. Sem ver a carne, saboreando a sua alma. Amou-a. Lembrando quem era levou-a consigo até à possante montada.
Tomando-a nos braços perderam-se por entre a névoa daquela noite negra, onde sobre as copas das árvores ainda resplandecia o luar prateado.



1 comentários:

Inês disse...

Tens uma capacidade incrível de descrição! Consegues descrever perfeitamente as imagens e os cheiros...é maravilhoso ler os teus textos! Tens todos os dados necessários para imaginarmos a cena e senti-la completamente.
Força :)